O prefeito Bruno Reis (União Brasil), de um lado, e o candidato do PSOL, Kleber Rosa, de outro, espremeram de tal forma o postulante do MDB à Prefeitura, Geraldo Jr., durante o primeiro debate entre os prefeituráveis de Salvador, promovido pela TV Bandeirantes nesta quinta-feira (08) à noite, que não apenas o transformaram num bagaço como acabaram, por consequência, desmontando de vez a estratégia do governo do Estado de apresentar o emedebista como um player respeitável no jogo sucessório.
Apesar do investimento pesado feito no treinamento de Geraldo Jr. para o confronto, ele não se ajudou. Sem domínio dos temas relativos à cidade e seguramente de qualquer outro, o candidato misturou alhos com bugalhos, embaralhou palavras com conceitos, cuspiu números e rodopiou feito um peru ao tentar engolfar os adversários até marchar célere na transformação da própria candidatura numa caricatura. O resultado foi um vexame que envergonhou não apenas os próprios aliados.
Não por acaso, reservadamente, muitos censuraram a iniciativa do governador Jerônimo Rodrigues (PT) de acompanhá-lo aos estúdios da emissora, de cujo chão o senador Jaques Wagner (PT), padrinho do emedebista e muito mais sabido que ele, passou ao largo. Com sua performance troncha, esquerdo-conveniente, Geraldo Jr. se tornou um alvo fácil tanto de si mesmo como de um Bruno que, presunçosamente, pretendia derrubar e de um Kleber com o qual, ingenuamente, esperava compor.
Feito uma metralhadora giratória da qual iam sendo atirados dados cuja desconexão minava sua própria confiabilidade, o candidato do MDB mostrou rapidamente que sua arma era um cartucho sem miolo. Na ausência de estratégia viável para se colocar em campo, cometeu o erro de lançar mão da mesma artificialidade com que se comporta para tocar o confronto. Mas selou o equívoco de verdade ao tentar se colocar no espectro político oposto ao do prefeito. De troco, recebeu quase um tiro na fronte.
Na verdade, duas sérias descomposturas associadas a um lastimável carimbo luminoso na testa de que não passava de um “decoreba”, um boneco de ventríloquo. O golpe certeiro foi desferido sem dó nem piedade pelo sarcástico candidato do PSOL. “Olha, a gente observa aqui do candidato Geraldo um festival de números até milimétrico. Percebe-se que o candidato decorou e está fazendo uma nuance de conhecedor dos problemas, talvez até conheça, porque é parte do problema, candidato, e isso precisa ser dito olho no olho, candidato”.
Foi a primeira frase com que Kleber escalou o ataque, para completar de forma fulminante: – Você participou de 10 anos de 12 da gestão do grupo deles. Você não foi só um membro de um grupo. Você foi um operador da política. Esse modelo de cidade que é excludente, que hoje você reconhece, esse modelo de cidade foi pensado por um grupo que arquitetou esta cidade. E você foi mais do que um membro do grupo, você foi um articulador”, afirmou sem compaixão o candidato do PSOL, voltando-se na direção de Bruno.
E continuou, enquanto Geraldo ia minguando ante os olhos de todos que assistiam ao debate: “Você foi presidente da Câmara de Vereadores e foi um operador de todos os projetos, garantiu que todos os projetos desse grupo que tá aí e é responsável por essa cidade da exclusão fossem aprovados. Você foi a mão de ferro do grupo carlista. Então, eu te pergunto com muita sinceridade, e com respeito, como é que você se sente legítimo para vir aqui fazer todas estas críticas (ao grupo de Bruno) sem pelo menos fazer uma autocrítica”.
Mas o festival de constrangimentos não parou por aí. Olhando nos olhos de Geraldo, Kleber disparou de forma quase filosófica: “É necessário ter comprometimento histórico e biográfico para que as pessoas (te) levem a sério. Então, mais do que os números, candidato, faça autocrítica, diga onde você errou, não só em estar com ele mas na construção da cidade excludente que eles construíram”.
Não é preciso dizer que, ditas de forma precisa e contundente, as palavras de Kleber mergulharam o estúdio da Bandeirantes numa autêntica crise de vergonha alheia. Não apenas baixaram os olhos os assessores do PSOL, como os de Bruno e, principalmente, os de Geraldo Jr. Cansado de ser atacado por alguém que há tão pouco tempo se declarava publicamente seu amigo fraterno e participara do governo de seu grupo, como disse Kleber, Bruno teve também a mesma oportunidade de dar um “carão” no candidato de Jaques Wagner à Prefeitura.
“E aí eu me impressiono com a capacidade que o candidato (Geraldo Jr.) tem de mudar de lado. Ele dizia até dias atrás que ele era amigo pessoal dos filhos de Bolsonaro, dizia que se comunicava com ACM Neto pelo olhar. Coitado do ex-prefeito João Henrique, que era um pai para ele, deu um mandato a ele e, quando saiu da Prefeitura, ele nunca mais atendeu uma ligação. Dizia que eu era o conselheiro da vida dele. E agora o líder dele é Lula, é Jerônimo. Peraí candidato”, disse Bruno sem disfarçar a indignação. E completou:
“E aí, perguntado (sobre a mudança de lado político), ele diz: até as pedras mudam de lugar. Aí não é pedra não, Geraldo. É uma avalanche que aconteceu nas suas mudanças políticas. O povo está vendo tudo isso e sabe quem é, e o candidato Kleber teve a oportunidade aqui de esclarecer”. Pelo menos as câmeras mostraram o que pareceu ser um riso amarelo estampado na cara do candidato emedebista. Não espanta que, tal qual aconteceu com o presidente dos EUA Joe Biden, tenha ganho tração a ideia de que ele deveria renunciar à candidatura para livrar o PT, o governo, Wagner e os irmãos Vieira Lima de tamanho escárnio.
Fonte : Politica Livre
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