Na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez seu primeiro pronunciamento após a decisão do STF na anulação das sentenças contra o petista emitidas pela 13ª Vara Federal de Curitiba, no Paraná, determinada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), e atacou o ex-juiz Sérgio Moro, responsável pelos julgamentos da operação Lava jato.
“Nós vamos continuar lutando para que o Moro seja considerado suspeito. Ele não tem o direito de se transformar no maior mentiroso da história do Brasil e se tornar herói. Deus de barro não dura muito tempo. Eu tenho certeza que hoje, ele deve estar sofrendo muito mais do que eu sofri”, apontou o ex-presidente, que acusou a mídia de ter “firmado um pacto” com a Lava jato.
Lula afirmou, ainda, que foi “vítima da maior mentira jurídica, contada em 500 anos de história” e lembrou de Marisa Letícia, sua ex-companheira, que morreu em 3 de fevereiro de 2017.
“Ela morreu por pressão, o AVC se apressou. Eu fui proibido até de visitar meu irmão num caixão. Então, se tem brasileiro que tem razão de ter muitas e profundas mágoas, sou eu. Mas não tenho. Sinceramente, eu não tenho. Porque o sofrimento que o povo brasileiro está passando, que as pessoas pobres estão passando nesse país, é infinitamente maior que qualquer crime que cometeram contra mim.”
O ex-presidente falou que está aliviado com a decisão publicada pelo STF. “Anteontem, foi um dia gratificante. Sou agradecido ao ministro Fachin, porque ele cumpriu uma decisão que a gente pedia desde 2016. Ele cumpriu, 5 anos depois, uma coisa que ele colocava desde 2016. A quadrilha de procuradores da força da tarefa e Moro entendiam que a única forma de me pegar era me levar pra Lava Jato porque eles queriam criar um partido político e tentar me criminalizar.”
O sofrimento que o povo brasileiro está passando, que as pessoas pobres estão passando nesse país, é infinitamente maior que qualquer crime que cometeram contra mim.
Críticas ao governo
O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi criticado por Lula. “Eu preciso falar com vocês sobre a situação desse país. Seria um erro de minha parte não falar que o Brasil não precisava passar por isso”.
“Muita gente está sofrendo. Por isso quero prestar a minha solidariedade às vítimas do coronavírus e ao pessoal da Saúde. Mas sobretudo, os heróis e heroínas do SUS, que foram descredenciados politicamente. Se não fosse o SUS, teríamos perdido muito mais gente para o coronavírus.”
O ex-presidente pediu que os brasileiros tomem os imunizantes contra a Covid-19. “Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República ou do ministro da Saúde. Tomem vacina”. “Nós temos um presidente que falava que quem tem medo de coronavírus era ‘marica’, que era uma ‘gripezinha’, que ele era ex-atleta e não pegaria. Esse não é o papel de um presidente.”
Lula subiu o tom e seguiu criticando Bolsonaro. “Ele não sabe o que é ser presidente. Ele, a vida inteira, não foi nada, não foi nem capitão, era tenente. Depois que ele se aposentou, nunca mais fez nada na vida, foi vereador e deputado. Exerceu o mandato e conseguiu passar a ideia de que não era político. Durante 32 anos, ele não fez nada. Esse país não tem governo, não cuida da Economia, do emprego, do salário, da Saúde, do Meio Ambiente, da Educação e não cuida do jovem na periferia. Ou seja, do que eles cuidam?”, perguntou.
O tombo de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, que tirou o Brasil das dez maiores economia do mundo, agora ocupa a 12ª posição, foi lembrada pelo petista. “Esse país, que no tempo em que o PT governava, chegou a ser a sexta economia do mundo. Em Copenhagen eu brincava com a França e a Inglaterra: ‘Se preparem, nós já passamos vocês, agora eu quero passar a Alemanha’. O Brasil não nasceu para pensar pequeno, nasceu para ser grande. Nós éramos um país altamente respeitado. Na China, na Alemanha ou nos Estados Unidos da América do Norte. Esse país tinha um projeto. O que esse país tem hoje?”
Ele não sabe o que é ser presidente. Ele, a vida inteira, não foi nada.
Gracias
Lula ofereceu parte de seu pronunciamento aos agradecimentos por apoios que recebeu durante o período em que foi julgado e que estava detido na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, no Paraná.
“A cadeia não foi o sofrimento que eu esperava que fosse. Não sei se alguém na história teve tanto apoio. Então, eu tenho que agradecer o movimento sindical e ao movimento sem-terra”, apontou o ex-presidente, lembrando da vígilia que acompanhou seu tempo de cárcere, na frente da prisão.
A Argentina teve especial atenção de Lula. “Não poderia deixar de agradecer ao presidente Alberto Fermandez, que teve a decência, contra a extrema direita, ele teve a coragem de ir à Polícia Federal em Curitiba para a me visitar. Até pedi pra ele não dar entrevista pra não ser prejudicado. Ele me disse: ‘Lula, não tenho nenhum problema com o que a direita vai falar, vim aqui ser solidário com você que está vivendo a maior injustiça política já praticada na América Latina.”
Em seguida, Lula lembrou de outro argentino. “Meus agradecimentos ao nosso querido Papa Francisco. Não só porque ele mandou uma pessoa me visitar em Curitiba, me entregar uma carta, que a Polícia Federal não deixou entrar, e depois eu recebi a carta do Papa, além dos belos pronunciamento do papa em vários momentos.”
Outros líderes políticos também foram citados. “Eu não poderia deixar de citar o companheiro Pepe Mujica. Também não posso deixar de agradecer o senador Bernie Sanders e à prefeita de Paris, a companheira Ana Hidalgo, que me recebeu durante as eleições”, lembrou.
Fonte : Brasil e Fatos
Rodrigo Chagas
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